A morte não é um dos temas mais agradáveis de se conversar. Ela gera espanto, assusta e dá medo. Certamente, em uma roda de amigos, esse assunto não será abordado com o mesmo entusiasmo que uma conversa sobre futebol, festa ou lançamento de um filme.
Além disso, para os que estão saudáveis e no auge da juventude ou da vida adulta, a morte parece sempre distante. Quando alguém inventa de tocar no assunto, desvia-se a conversa através de algumas desculpas: “ainda é cedo para me preocupar com isso”.
Essa estranheza com a morte é compreensiva. Através dela o ser humano toma consciência de sua vida passageira, de sua fragilidade e mortalidade, de sua impotência diante do inevitável destino do homem – e de todas as criaturas vivas. Além disso, paira sobre a morte uma cortina aparentemente misteriosa, que inspira a sensata preocupação com o que há de vir em seguida.
A Igreja não está afastada dessa discussão, mas a ilumina à luz da fé. Em Cristo, a morte tem um sentido positivo[1]. Através de sua própria morte brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da vida eterna consola. Com efeito, para aquele que crê, a vida não é tirada, mas transformada[2].
O cristão só encontra paz diante da morte, quando compreende seu verdadeiro sentido. A morte não como um mal em si, mas acolhida como um chamado à eternidade, um chamado para Deus. É por esse motivo que São Francisco de Assis louva ao Senhor pela irmã morte[3].
Um antigo e precioso livro de meditação chamado A Imitação de Cristo, adverte: “Em todas as tuas ações, em todos os teus pensamentos deverias comportar-te como se tivesse de morrer hoje. Se tua consciência estivesse tranquila, não terias muito medo da morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã?”.
Nesse cenário, a Igreja, como mãe e mestra, sempre orientou seus filhos a se prepararem para o momento da morte. Tal realidade é bem expressa no ditado latino “Memento Mori” (lembre-se da morte). Além disso, encontramos em alguns lugares a particular devoção a Nossa Senhora da Boa Morte, não à toa rezamos: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.
Através do auxílio de grandes santos, como São Roberto Belarmino[4], Santo Afonso Maria de Ligório[5] e São João Bosco[6], podemos encontrar modos bastante práticos de se preparar para a morte, entre eles: recorrer aos Sacramentos da Igreja, especialmente a eucaristia e a confissão; praticar cotidianamente o exame de consciência e a revisão de vida; reparar os erros e as faltas cometidas contra Deus e o próximo, compreender que a morte nos liberta e nos faz entrar na vida eterna; buscar o desapego das coisas materiais e temporais.
Quando tratamos sobre a morte no contexto da fé, ainda mais no mês de novembro, em que a Igreja celebra a comemoração de todos os fiéis defuntos, vale ainda um destaque: devemos lembrar de rezar pelos irmãos falecidos e consolar as famílias enlutadas. Aliás, isso ensina a Igreja através das obras de caridade corporais e espirituais: enterrar e rezar pelos mortos.
Assim como repetimos diversas orações ao longo do dia, que possamos nos lembrar de rezar também pela nossa própria morte, ou pela agonia daqueles que a esperam: “Ó Jesus misericordioso, que morrestes pregado na cruz, lembrai-Vos de mim na hora da minha morte (lembrai-vos de – nome da pessoa – na hora de sua morte)”.
Carlos Daniel de Souza Martins
Seminarista da Diocese de Colatina
[1] Catecismo da Igreja Católica, n. 1010.
[2] Prefácio dos mortos I.
[3] São Francisco de Assis, Cântico das criaturas: Opuscula sancti Patris Francisci Assisiensis, ed. C. Esser (Grottaferrata 1978) p. 85-86. [Cf. Fontes Franciscanas, I (Braga, Editorial Franciscana, 1994) p. 781.
[4] São Roberto Belarmino, A arte de bem morrer. Ecclesiae: 2020.
[5] Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte. Editora CDB: 2018.
[6] ABIB, Jonas. O Retiro da boa Morte. Canção Nova: 2015.

